São tantas luzes espalhadas pela cidade de São Salvador, como se quisessem expulsar as trevas do coração das gentes. Voltando então à Avenida Centenário, as árvores estavam com os galhos cobertos de luzinhas, cada árvore com uma cor, exuberantes, iluminadas! Dei viva aos chineses pela invenção que agora me fazia reparar no show de dança das árvores.
Voltando às árvores, então, foi numa dessas viagens criativas de ônibus (em que a gente fica ali sentada sem fazer nada e apreciando tudo pela janela, até a vida) que eu olhei e vi: as árvores realmente dançavam. Vestidas de luzes elas perderam a timidez e se soltavam no palco-canteiro, esquecendo-se até que árvores não deveriam sair do lugar. Mas elas dançavam e isso é um fato! Mesmo agora elas ainda estão lá, quem quiser pode ir ver, é só olhar,elas dançam e rodopiam pra quem quiser e souber ver...
Continuei viajando de ônibus e de avião e vendo fenômenos pelo Brasil afora. E não é que vi de novo as árvores dançantes, elas estavam em Brasília. Dessa vez mais bem comportadas, comedidas e formais. As árvores da capital mostravam sua dignidade diplomática mas tinham uma certa tristeza, diferente das árvores de São Salvador. No planalto central, as árvores são minoria, a maior parte do verde é serrado, árido e aí as árvores não apenas dançam, elas se contorcem. Os troncos negros, as folhas pequenas e escuras, as ramagens pequenas e baixas. Vigiam os ministérios e vêem tudo, os políticos bandidos, os políticos honestos, as boas intenções e as palavras vãs. Olhando tanta coisa desagradável as árvores ficaram assim tristes e tensas. Mas dançam, porque a natureza inteira supera os homens (eles acham que não fazem parte da natureza) e mesmo que os pássaros fujam em revoada, procurando ambientes mais aprazíveis, as árvores dançam.
Era Natal, e lá no planalto central as árvores também vestiam traje de gala, mais ricamente adornadas, com as benesses do povo, mas também dançavam. Comemorando a vida, o amor, a chuva...mesmo que tantos passassem sem perceber a silenciosa e linda dança da vida...
Ah! Em Juiz de Fora, Minas Gerais, também dançam as árvores. Aliás, todas as árvores dançam, enfeitadas de luzes ou não, em qualquer lugar do planeta. É que a gente precisa de luz pra enxergar o que está óbvio até no escuro. Entretanto, no Natal, enfeitadas de luzinhas chinesas se esmeram na dança. No Parque Halfeld as árvores são mais grossas, idosas, imponentes, mas não menos lânguidas, estendendo seus braços em direção aos homens que passam correndo na avenida Rio Branco, dentro de carros, ônibus ou dentro de si mesmos, sem ver o apelo mudo, a dança bela, alegre e, ao mesmo tempo, dramática das árvores. Elas pedem por suas irmãs no Amazonas, no Pará, do Oiapoque ao Chui. Elas mostram como são lindas na dança da vida, no ato de amar todos os seres e nos suprir como mães que são de todos nós.
Quem conta um conto aumenta um ponto. Quem aumenta um ponto cria um conto. Quem ouve um conto conta o que viu e não viu, mas quem viu o que não queria ver não conta conto nenhum. Assim a vida é feita de pequenos contos, contados e recontados pela imaginação que recria na vida os contos contados e recontados ao longo dos tempos. Contando o que vi e vivi, crio contos que serão contados e recontados pelo tempo a fora, e quem ouvir e contar aumentará os pontos e os contos não terão fim, serão muitos mais até o infinito. Assim lhes conto esse conto de Natal sobre as árvores dançantes, olhe em volta e verá que não aumentei nenhum ponto, as árvores dançam mesmo, em qualquer lugar, até mesmo no seu quintal, olhe e veja...e sinta e ame-as como a você mesmo.
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